Não é novidade que a obesidade, de forma geral, é um problema de saúde pública cada vez maior no mundo todo. E a obesidade infantil está inclusa com números alarmantes. Segundo pesquisa de 2017 do Imperial College London e Organização Mundial de Saúde, o número de crianças e adolescentes obesos entre 5 e 19 anos beirava os 124 milhões. Nesse ritmo, a pesquisa estima que em 2021 o mundo terá mais crianças e adolescentes obesos do que com baixo peso.
Objetivamente falando, estamos tratando de uma doença. E é assim que ela deve ser tratada. Logo, a melhor forma de se evitar uma doença é dando atenção à prevenção. No caso da obesidade infantil, entendemos que há de se ter um cuidado muito especial aos primeiros 3 anos de vida da criança. Os hábitos alimentares cultivados durante esse período serão os alicerces dos hábitos dela durante a vida toda.
Esses mil dias de vida começam a ser contados na gestação, que dura em média 270 dias (portanto, a futura mamãe também deveria procurar acompanhamento nutricional) e compreendem até o fim do segundo ano de idade da criança. A amamentação exclusivamente com o leite materno é o suficiente até, pelo menos, os primeiros seis meses de vida da criança. Passado esse período, a introdução de alimentação pastosa e mais adiante, sólida também deve ser acompanhada de forma profissional, e isso se estende à família, afinal o bom exemplo é fundamental.
Em tese, nada disso é segredo, o problema é colocar em prática. E muitas vezes os obstáculos são criados por nós mesmos, por conta de crenças enraizadas no cotidiano ou simplesmente pela ânsia de fazer o melhor, mas sem critério para isso. Uma prática muito comum é a de insistir para que a criança "limpe o prato", não deixe sobrar nada, por entender que ela ficará "fraca" se não comer a quantidade que os pais estipularam.
Precisamos entender que crianças têm um senso de saciedade muito preciso, elas naturalmente sabem quando não precisam comer mais, e é preciso respeitar isso. Insistir para a criança comer mais, além de gerar um superávit calórico desnecessário, criará uma sensação nociva de ansiedade na criança, sabendo que terá que passar por aquela "negociação" com os pais a cada refeição. E como bem sabemos, a obesidade está muito intimamente ligada à ansiedade.
A atividade física entra como um complemento fundamental, seja na prevenção, seja no processo de tratamento da obesidade. E já que falamos nos primeiros mil dias de vida, podemos começar sugerindo as atividades aquáticas nessa fase. Quanto mais cedo a criança for introduzida às piscinas, maior será a intimidade dela com o meio, uma vez que passamos 9 meses em um ambiente totalmente aquático: o útero materno.
Qual outra atividade podemos sugerir? Todas.
A criança está em um estágio de desenvolvimento motor extremamente fértil, qualquer atividade é bem-vinda desde que a criança tenha afinidade com a mesma. Principalmente se a criança já está em um quadro de sobrepeso/obesidade, a atividade deve ser pensada como uma parte indissociável do cotidiano dela, e não como algo que surtirá efeito no curto prazo e depois poderá ser interrompido. É fundamental que a criança goste da atividade que pratica, e não seja induzida pela obrigação de emagrecer. Lembremos novamente do gatilho da ansiedade, uma escolha errada aqui pode ser um grande passo atrás.
Até o mês que vem, sempre com atenção aos nossos pequenos.